quarta-feira, 30 de junho de 2010

Acabou

Acabou esta noite a participação de Portugal no Mundial 2010, o que acaba por gerar uma onda de tristeza, pois todos os portugueses tinham um "feeling" de que, apesar de todas as críticas, esta seria a nossa noite. Mas não foi.

Entrámos mal na partida, desconcentrados, e nos primeiros minutos permitimos 3 remates perigosos, mas o enorme Eduardo mostrou que estava lá para o que desse e viesse. A equipa organizou-se defensivamente e a partir daí a Espanha foi completamente manietada, sem conseguir as suas típicas penetrações, muito menos transições rápidas. Ao mesmo tempo, Portugal cresceu com o jogo e começou a saír cada vez com mais perigo para o ataque, originando lances de perigo junto da baliza Espanhola, equilibrando a contenda.

Tudo acabou por ruír à passagem da hora de jogo: a Espanha fez entrar Llorente, um verdadeiro "caixote" de área, que veio prender sempre um central e começou a abrir brechas na defesa, e do nosso lado Queirós trocou Almeida por Danny, o que acabaria por se revelar desastroso, pois Almeida estava a fazer uma excelente exibição, dando imenso trabalho à defesa Espanhola, e Danny pouco acrescentou.

Pouco depois, o golo de Espanha, num remate de Villa, na única penetração típica da "Roja" ao longo de toda a partida, que Eduardo ainda defendeu, mas já não conseguiu deter a recarga. A partir daí, a Espanha estava como queria, com aquele futebol bonito mas esquisito, de passes na maioria sem sentido e repetidos à exaustão. Claro que, em vantagem e contra uma equipa sem poder ofensivo, os Espanhóis estavam como queriam.

Foi deixar correr o marfim até final, com Portugal a não conseguir entrar em modo desespero, parecendo "bloqueado" para dar o tudo por tudo nos últimos minutos. Deixo apenas uma nota para a arbitragem, pois uma vez mais, fomos prejudicados: o golo da Espanha é em fora-de-jogo (milimétrico, diga-se) e a expulsão de Ricardo Costa ao cerrar do pano é inexplicável, pois as imagens nada mostram.

Nota negativa, infelizmente para todos nós, para CR9, que à excepção de um livre bem batido, esteve perfeitamente ausente do jogo. Nota muito positiva para Eduardo (Mundial fantástico, ganhámos o herdeiro de Vítor Baía, finalmente!) e Hugo Almeida (a sua melhor exibição pela selecção).

Agora é tempo de ver o resto do Mundial sem "stress", e em Setembro começar nova batalha na qualificação para o Euro 2012. Sem alguns jogadores mais antigos (Deco, provavelmente Liedson e Paulo Ferreira), mas com a certeza de que saímos deste Mundial mais fortes do que chegámos, com um grande guarda-redes (de apenas 27 anos!) e uma defesa de betão. Equilibre-se agora o ataque e pode ser que em 2012 nos consigamos bater olhos nos olhos com qualquer adversário.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O verdadeiro erro Cabo-Verdiano

Em ritmo de treino, Portugal empatou ontem a zero com Cabo Verde, num jogo em que dada a animosidade da generalidade do público e imprensa para com a equipa nacional, a vitória era fundamental. Se as coisas já não iam direitas no capítulo dos laços afectivos entre este triângulo, agora a coisa começa a descambar. E sem razão.

Desde o início da Fase de Qualificação fizemos 14 jogos, que se saldaram em 8 vitórias, 5 empates e 1 derrota, sendo que já vamos em 12 jogos consecutivos sem perder! E há 7 jogos que não sofremos golos. Foi uma fase de qualificação "sofrida", muito por culpa de uma derrota caseira logo a abrir com a Dinamarca, numa jogo surreal, provavelmente o melhor jogo da década da selecção portuguesa, que se deixou perder 2-3 nos últimos minutos um jogo que poderia ter dado uma goleada histórica. A partir daí, foi sempre "correr atrás do prejuízo", e a verdade é que Portugal cumpriu e qualificou-se. Agora, com os jogos de preparação, começaram as críticas na vitória por 2-0 sobre a China e com este empate com Cabo Verde já somos uma desgraça...

Para desmistificar isto, que tal analisar as últimas grandes competições?

Euro 2008 - Qualificámo-nos no último jogo, na recepção à Finlândia, passando os últimos 15 minutos, penosamente, enfiados na nossa área a ser massacrados pelos nórdicos que, em caso de vitória, nos roubavam o 2º lugar do grupo (que deu acesso directo). Em 4 jogos de preparação para o Euro 2008, ganhámos 2-0 à Geórgia e 2-1 à Escócia, perdendo 3-1 com a Itália e 1-2 com a Grécia! No Euro começámos muito bem, vitórias claras sobre Turquia (2-0) e Rep. Checa (3-1), com a derrota com a Suíça (2-0) no último jogo da fase de grupos a jogar em modo "treino" e com muitos suplentes. Seguiu-se a Alemanha, e perdemos 3-2. Participação positiva, eliminados por um dos candidatos.

Mundial 2006 - Qualificação muito fácil para este Mundial, numa altura em que tinhamos a melhor selecção portuguesa de sempre e um grupo fácil, sem nenhum adversário directo. Particulares contra Cabo Verde, Arábia Saudita e Luxemburgo (2 vezes), que se saldaram em 4 vitórias moralizadoras, que anteciparam uma excelente prestação no Mundial, em que vencemos os 3 jogos da Fase de Grupos (Angola, México e Irão) e passámos Holanda e Inglaterra até caír aos pés da França na meia-final. Participação brilhante.

Euro 2004 - Tivemos apuramento directo em virtude de sermos os organizadores, e apenas disputámos partidas amigáveis, que se saldaram em 9 vitórias (Brasil, Macedónia, Bolívia, Cazaquistão, Noruega, Albânia, Koweit, Luxemburgo e Lituânia), 5 empates (Holanda, Paraguai, Grécia, Inglaterra e Suécia) e 3 derrotas (Itália, por duas vezes, e Espanha). No Europeu disputado em casa, entrámos com o pé esquerdo, perdendo com a Grécia por 1-2. As críticas foram imensas e partimos para uma bonita caminhada que deixou pelo caminho na competição a Rússia, a Espanha, a Inglaterra e a Holanda, voltando a encontrar a Grécia na final... e perdendo. Se a derrota fosse frente a uma selecção forte, o percurso seria ainda assim brilhante. Perdendo a final, em casa, frente a uma equipa muito inferior, apenas podemos considerar o desempenho positivo.

Resumindo - Como podemos ver por esta curta análise, nunca estivemos no patamar mais alto, tivemos sempre precalços pelo caminho, que resultam do facto de não sermos nem nunca termos sido uma selecção candidata a nada, apenas um outsider com um naipe de excelentes jogadores. Mas sem uma qualidade média e quantidade de opções que nos permitam "saltar" para o grupo de Alemanha, Brasil, Argentina, Itália ou França. Tivemos no período entre 2004 e 2006 a nossa melhor selecção de sempre, que apenas logrou o título de vice-campeã europeia numa final caseira frente a uma fraca Grécia. Daí para cá, tem sido sempre mais complicado, vários jogadores nucleares foram abandonando a selecção e a renovação não tem existido. Nenhuma selecção pode aspirar efectivamente a algo se não tem um guarda-redes de classe mundial, se não tem um defesa esquerdo, se o único trinco que tem é um central adaptado ou tem de naturalizar à pressa um brasileiro trintão para jogar na frente de ataque. É fundamental que todos percebamos que a nossa selecção não é nem a melhor, nem a pior do mundo. Apenas um outsider que tem a sorte de contar com meia dúzia de jogadores de top mundial. E que os jogos de preparação são, exactamente, para preparar a equipa.

Nota final - Este jogo de preparação frente a Cabo Verde, tal como o jogo frente a Moçambique, é um erro de planeamento. Estamos a fazer jogos de preparação em vésperas do Mundial, que são jogos em que nenhum jogador quer arriscar "meter o pé", frente a adversários com ligações afectivas ao nosso país e ao nosso futebol, que vêm neste o "jogo das suas vidas". Estes deveriam ser jogos para jogar a segunda linha, em ritmo de competição, com gente ávida por ganhar um lugar ao sol. Para que serviram estes 90 minutos de Cristiano Ronaldo ou Nani? Não seria mais útil dar minutos a segundas linhas? Esse para mim foi o verdadeiro erro do teste de ontem.

domingo, 16 de maio de 2010

A morte anda por aí (RIP Besian)

Morreu Besian Idrizaj. Para a maioria dos adeptos do futebol, é um nome que nada diz. Para mim, curiosamente, a notícia seca da sua morte, lida na "net", foi recebida com algum incómodo. Fará por esta altura um ano que um amigo comum, seu antigo colega de equipa, me telefonou a saber se eu podia ajudar um amigo Austríaco que precisava de relançar a carreira, que tudo o que ele precisava era de uns dias à experiência no Restelo. Chamava-se Besian Idrizaj, avançado, tivera uns problemas de saúde (cardíacos), mas estava totalmente recuperado.

Lembrava-me de há uns anos atrás, na altura em que o Liverpool o fora buscar, Besian ser uma das "next big thing" do futebol europeu, mas a verdade é que nunca mais se tinha ouvido falar dele. Pesquisas na internet e uns telefonemas depois, cheguei à conclusão que não era assim tão evidente que ele estivesse bem dos problemas de coração e acabei por nunca me informar se haveria uma possibilidade para ele mostrar o seu futebol no Restelo.

Durante o Verão, acompanhei a sua contratação pelo Swansea City de Paulo Sousa, onde teve um jogo de estreia auspicioso, mas não conseguiu depois dar seguimento a essa exibição, acumulando apenas 4 utilizações oficiais na temporada.

Há poucas horas li que ele morreu. Senti aquele arrepio que sentimos quando morre alguém que conhecemos. Não cheguei a falar com ele, mas por vezes lembrava-me que, desconfiado da sua saúde, não o tinha ajudado. Infelizmente tive razão.

Aos 22 anos, Besian partiu, mas deixou alguma marca. Aos 17 era o melhor jogador jovem da Liga Austríaca e aos 18 assinava pelo poderoso Liverpool. Deixo, para acabar, o vídeo com o ponto alto da carreira do jogador em Inglaterra, com um hat-trick em 26 minutos pelas reservas do Liverpool frente à congénere do Wrexham.



Descansa em Paz Besian.

sábado, 15 de maio de 2010

Actuação nojenta

Nojo e preocupação, é o que me provocam as manobras do Benfica para empolar acontecimentos tristes, lamentáveis e condenáveis, que se passaram no último fim de semana, fazendo uma mistura de claros apelos à violência encobertos por "floreados" comunicados pedindo calma aos adeptos.

Tudo começou logo após a vitória do Benfica na Liga Sagres, através de António Pragal Colaço, que em declarações na inenarrável Benfica TV lançou um apelo ao "olho por olho, dente por dente", apelando a um ataque à Casa do Porto em Lisboa, falando em "pegar nas armas", entre outras alarvidades (ver vídeo).



Seguiu-se um comunicado bonito, com o lobo a vestir a pele de cordeiro, em que totalmente a despropósito, e sobre um jogo entre o Porto e o Chaves, a Final da Taça de Portugal, a realizar no Estádio Nacional, o Benfica se arrogou no direito de, qual Paladino da boa fé, pedir aos seus adeptos para que deixem a mesma recorrer em normalidade (ver aqui o comunicado). Matam-se assim dois coelhos de uma cajadada só: por um lado avisam-se as "tropas" da vinda do inimigo, e por outro lavam-se as mãos como Pilatos para o que quer que se venha a passar.

Para acabar em beleza, começou ontem a campanha a intoxicar a opinião pública sobre a suposta morte de um adepto do Benfica, que ficou ferido em confrontos em Braga na noite do título. Notícia essa muito esquisita, que apareceu por canais "informais", disseminando-se nas redes sociais depois de ser "soprada" pela Benfica TV. O processo foi simples: Na noite de Quinta-Feira um espectador entrou em directo em antena na Benfica TV para informar que o adepto que fora internado tinha falecido. Na manhã de ontem, era já a própria Benfica TV que noticiava a morte do adepto. Sem que os órgãos de comunicação conseguissem confirmar a notícia, e com a insistência do canal televisivo oficial do Benfica, a imprensa começou a dar a notícia citando como fonte a Benfica TV. Até que ao final do dia, finalmente, o Público deu a verdadeira notícia: era mentira! (ver aqui)

Estas 3 acções dizem muito sobre a forma de actuar do clube encarnado neste momento, sentindo-se completamente acima de tudo e todos, com um Presidente que diz que o Benfica é Portugal, como se uma vitória pontual no meio de uma travessia do deserto de décadas lhes desse, sequer, moral para falarem de cátedra.

Não é a grande qualidade do futebol da equipa de Jesus que deixa irados os adeptos adversários. Essa deixa-nos rendidos à sua superioridade. Mas é essa soberba bacoca, assente numa base de apoio obviamente maior que todas as outras e numa vitória esporádica que inflamou as suas hostes, que veneram os seus líderes como Deuses, que gera esta tensão estúpida e sem razão no futebol português. Acresce a isso um dado muito importante, chamado Benfica TV, que é uma arma poderosíssima, que entra pela casa dos adeptos sem pedir licença e, inteligentemente, os molda ao sabor do que a Direcção do clube pretende. Os exemplos são inúmeros, não é só de agora.

Neste pântano que é o futebol português, todos têm telhados de vidro. Todos, sem excepção. Mas não há memória de ver um clube apoiar, clara ou tacitamente, episódios de violência contra adeptos dos clubes rivais. Nojo, nojo, nojo. Como tantas vezes tenho dito a amigos Benfiquistas, este título mais do que justo, fruto de muito trabalho de grande qualidade em campo, vai ser ensombrado para sempre por vários acontecimentos que o envolvem, responsabilidade dos encarnados.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A convocatória de Queiroz (descodificada)


Desde que saíram ontem os 24 convocados para o Mundial, que os nomes apontados por Carlos Queiroz têm vindo a levantar alguma celeuma, com 10 milhões de portugueses a emitirem 10 milhões de opiniões, como se uma selecção como a portuguesa, com um campo de recrutamento tão reduzido, permitisse ao nosso Seleccionador ter de tomar decisões realmente difíceis. Difícil é ser seleccionador Brasileiro e ter de deixar de fora super craques do futebol mundial. O Seleccionador português limita-se a convocar aqueles 8 ou 9 que realmente são de top mundial, e depois há um grupo de algumas dezenas de jogadores de bom nível, mas que é "vira o disco e toca o mesmo".

Na baliza terá surgido, eventualmente, a maior surpresa desta convocatória, com Eduardo, Daniel Fernandes e Beto a serem chamados. Eduardo é o nosso titular desde a fase de qualificação, mas a ausência de Quim faz-se notar. Penso que a explicação para a opção por estes 2 jovens tem como único objectivo tranquilizar Eduardo, isto porque com os outros 2 nomes apontados para a baliza, está resolvida a questão da titularidade, permitindo assim ao guarda-redes do Braga maior tranquilidade na defesa da nossa baliza. Mesmo a opção Hilário, com o capital conseguido ao serviço do Chelsea, poderia ser uma "sombra" para o guardião bracarense.

Para as laterais da defesa surgem os "normais" Miguel, Duda e Paulo Ferreira, com a "novidade" Fábio Coentrão, que será opção a ter em conta, nomeadamente no jogo com a Coreia do Norte, para o lado esquerdo da defesa. No eixo da defensivo, surgem 5 centrais, sendo que 1 deles deverá ser preterido durante o estágio. Os inevitáveis Bruno Alves e Ricardo Carvalho, o "escudeiro" Rolando e depois Ricardo Costa (que fez excelente 2ª metade da temporada no Lille) e José Castro (uma surpresa, sem internacionalizações A, e que em Espanha tem tardado a afirmar-se).

Relativamente ao meio-campo , Pepe se estiver apto será o trinco óbvio, mas no caso do luso-brasileiro não estar nas melhores condições, será então ele o preterido e José Castro será o trinco "fixo" que não será dono do lugar, mas na eventualidade de um jogo com equipas nórdicas ou com maior poder aéreo, entrará. No resto, Deco, Tiago, Miguel Veloso, Pedro Mendes e Raúl Meireles são escolhas óbvias.

Para as alas não há muito a inventar, com Cristiano Ronaldo, Simão e Nani a serem indiscutíveis e Danny a ser um regresso importante após lesão (o seu estilo é pouco estético, mas é um "abre-latas").

Para a frente de ataque, apenas dois jogadores: Liedson e Hugo Almeida. Estranha-se essencialmente a não convocatória de Makukula, após excelente temporada na Turquia, mas a verdade é que falando de pontas de lança de área, Hugo Almeida encaixa muito melhor no futebol da selecção do que Makukula, apesar deste último ser mais goleador.

Olhando aos nomes, não vejo aqui que haja efectivamente grandes surpresas: João Moutinho foi penalizado por uma época desastrosa do Sporting e fraca em termos individuais e os guarda-redes que se esperavam para suplentes foram vítimas de um voto de confiança inequívoco em Eduardo. Makukula acaba por ser, na minha óptica, o único jogador que poderia estar incluído, em detrimento de Duda, uma vez que a chamada de Coentrão acaba por fazer o jogador do Málaga perder por completo espaço de manobra.

Queiroz escolheu, são estes os nossos homens para o Mundial, resta-nos agora apoiar e, após a competição, avaliar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Futebol não é para meninas?

Depois de verem a menina número 15, Elizabeth Lambert, da equipa americana Bingham Youngs acho que rapidamente mudam de opinião. Ou então, isto é uma mulher de barba rija. Seja lá o que for, aconselho vivamente a que não se metam com ela. Uma Materazzi à Americana:

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Futebol é desporto de Inverno

Trago este título à baila porque, ano após ano, parece que cada vez mais só se pode jogar futebol em relvados imaculados e verdejantes, sem uma gota de águe e muito menos lama.

As coisas estão num ponto em que se acha estranho ontem ter tido lugar o jogo entre Vitória de Guimarães e Benfica para a Taça da Liga. O relvado estava mau? Estava. Mas faz parte do jogo!

Há jogos que ficam na memória nas piores condições. Recordo um marcante Boavista-Benfica que terminou com Paulo Sousa na baliza debaixo de uma tempestade. Ou o Belenenses a golear o Penafiel enquanto nevava em Lisboa.

Nas camadas jovens, jogava em pelados, alguns com lixo espalhado pelo campo. Éramos miúdos de 10, 11, 12 anos. Às vezes chovia. Às vezes chovia a cântaros. Até sob granizo joguei. Recordo um torneio no Estoril em que era eu que tinha de marcar os pontapés de baliza da minha equipa porque era o que rematava com mais força e, portanto, o único que conseguia chutar a bola para fora da área. E daí? Jogava-se! Futebol.
Custa-me acreditar que seja colocada em causa a realização de um jogo nas condições do que ontem teve lugar. Porque isso é, cada vez mais, defender os mais fortes. O futebol é o maior desporto do mundo porque, na sua origem, foi o único desporto que colocou lado a lado, quer dentro, quer fora de campo, diferentes classes sociais. No Séc. XXI, parece que o futebol é só para os ricos irem para a bancada e para os clubes mais ricos vencerem os jogos.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

CAN começa mal

O Mundo inteiro condena o ataque prepetrado por revolucionários da FLEC contra o autocarro que transportava a Selecção do Togo que se dirigia para a CAN, na província de Cabinda, e com razão. Mas até aqui pouco se ouviu sobre como foi possível o mesmo ter sucedido e quais as suas repercussões.

Cabinda é uma província Angolana onde se situam grande parte das riquezas naturais do país. No entanto, Cabinda não tem qualquer ligação física com o território Angolano. A sua formação enquanto província tem origem na Conferência de Berlim, em finais do Séc. XIX, que dividiu um extenso território em Congo Belga (actual Rep. Congo), Congo Francês (Rep.Dem.Congo) e Congo Português (Cabinda). No entanto, os Belgas pretendiam ter ligação ao Oceano Atlântico, pelo que o Congo Português deixou de ter ligação a Angola, cortando-se assim quaisquer laços que poderiam existir com as províncias a Sul. Desde 1975, que a FLEC reclama a independência da província, mas a sua força sempre foi relativa e não passa de actos de guerrilha isolados.

Dito isto, estamos perante um território numa paz aparente, que foi escolhido como uma das cidade sede da CAN 2010. De forma a garantir a segurança das selecções que se deslocariam a Cabinda, a organização da CAN informou as mesmas que deveriam rumar a Luanda e, daí e com escolta militar, deslocar-se-iam para Cabinda. Apesar dos avisos, o Togo optou por viajar de avião até Libreville, na Rep.Dem.Congo, e daí seguir de autocarro para Cabinda.

Conhecedoras da situação, as forças da FLEC não hesitaram e aproveitaram a oportunidade para dar a conhecer ao mundo a sua luta. Da forma mais estúpida, claro, atacando estrangeiros inocentes que se deslocavam à sua província para um espectáculo desportivo.

A Federação do Togo cometeu um erro crasso ao não cumprir as recomendações da organização da CAN. E o abandono da prova, dadas as 3 vítimas mortais e alguns jogadores feridos, é uma saída óbvia para a situação. Mas notícias hoje vindas a lume dão conta de uma possível punição exemplar para os Togoleses por terem abandonado a prova.

É aqui que não concordo. Houve um erro, mas num mundo civilizado não serão necessárias escoltas militares para um autocarro com jogadores de futebol passar, onde quer que seja. Dadas as repercussões da emboscada, inclusivé com jogadores fisicamente inferiorizados, a acrescer a dirigentes mortos, a saída da competição parece a única solução aceitável. Castigar ainda mais o Togo do que o castigo de não entrar em campo, por razões plausíveis, parece-me abusivo.

Senão, imaginemos a seguinte situação: Europeu em Espanha, a França é avisada que deve ir de avião até Madrid e daí para Bilbao com escolta militar. Os Franceses, ignorando o perigo, seguem de autocarro para Bilbao, há uma emboscada. Em resultado, a França abandona a competição. Ainda se ia dizer que os Espanhóis tiveram culpa? Alguém ia castigar ainda mais os Franceses?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tecnologias aplicadas ao futebol

Este é um tema que está na ordem do dia, em consequência da entrega de uma petição na Assembleia da República pelo jornalista/comentador Rui Santos que visa a discussão da adopção das novas tecnologias no futebol.

A ideia é louvável, mas não mais que isso. Claro que uma alteração desta monta tem de passar acima de tudo pela FIFA e UEFA e vontade destas entidades em tornar o futebol mais verdadeiro. E tenho sérias dúvidas que estas duas entidades tenham interesse em mitigar o erro no futebol.

Tive ontem oportunidade de explanar duas alterações que para mim são essenciais no futebol aos microfones da TSF, e que são a utilização do vídeo para apoio ao árbitro e a cronometragem do tempo de jogo, e que sucintamente passo a explicar:

Quanto à utilização do vídeo, há várias formas do mesmo ser implementado, há que estudar qual a que efectivamente é mais prática e acertada e implementá-la. Desta forma facilmente se resolvem "casos" de penaltys, agressões ou bolas que entram ou não. Relativamente ao fora-de-jogo, já há jogo directivas aos árbitros auxiliares para que, em caso de dúvida, beneficiem quem ataca, o que todos sabemos que não acontece porque é mais "fácil" anular um lance de potencial perigo marcando mal um fora de jogo do que correr o risco de validar um golo que não deveria ter sido validado. Com o recurso vídeo, mais facilmente o árbitro auxiliar dá o benefício da dúvida à equipa que ataca, cabendo o ónus da prova, à posteriori, a quem defende.

A acrescer a isto, e de forma a agilizar o jogo (não premiando as paragens para análise vídeo e "matando" o anti-jogo), há que cronometrar o tempo efectivo de jogo. Trinta minutos em cada parte significa que se jogariam 60 minutos efectivos de futebol, 66% do tempo útil, bem mais do que o usual no futebol moderno.

Claro que depois vem sempre o "problema" do custo destas medidas. Como é óbvio, seriam aplicadas apenas nas grandes competições e nas ligas mais importantes, onde o custo justifica a rentabilidade. E mesmo o custo é subjectivo: na nossa liga, 6 dos 8 jogos já são transmitidos pela TV. Ao minimizarmos o erro, melhoramos o espectáculo, o que atrairá mais espectadores, o torna mais rentável e facilmente torna esse custo residual.

E depois destas medidas serem implementadas, é preciso outra ainda mais profunda: mudar mentalidades. Ou seja, ter dirigentes, técnicos, adeptos e imprensa que valorizem o futebol (os golos, as fintas e as defesas) e desvalorizem os erros e os casos. Suprema ironia uma petição deste tipo ser apresentada por Rui Santos, ele que é um dos principais rostos daquilo que não deve ser o futebol: alguém sempre em busca de "casos" e erros de arbitragem, que tem horas e horas de tempo de antena em que destaca apenas o que o futebol tem de negativo. Parabéns a ele por, finalmente, fazer algo em prol do futebol.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Sal(eiro) do futebol são os golos

Fruto de circunstâncias várias, e numa altura em que o Sporting decide mudar de política, colocando em risco uma década de gestão rigorosa, Saleiro acabou por ter finalmente oportunidade de jogar nesta fase da temporada. E, em 2 jogos, 2 golos. O que se pede a um ponta-de-lança.

Saleiro não é, obviamente, um malabarista ou um velocista. Também não é um jogador de forte presença física. Mas tem alguma piada ver Saleiro, que pareceu uma carta fora do baralho em Alvalade desde o início da temporada, "ter" de jogar e mostrar mais serviço que todos os outros avançados leoninos.

A esta hora, Saleiro deve ser uma terrível dor de cabeça em Alvalade. Neste momento, já devem ter percebido que o avançado por quem deram 6,5 milhões na realidade é um extremo que marca uns 7 ou 8 golos por temporada. Tem qualidade, mas não lhe peçam para marcar golos. O "grande" Caicedo, já foi recambiado. Liedson está no estaleiro. Postiga continua uma travessia no deserto que começou há 6 anos, em White Hart Lane. Para golos, parece só sobrar Saleiro.

Saleiro que marcou à Naval o golo da vitória, à ponta-de-lança. Arrojando-se pela relva, piton com piton com o defesa, chegou primeiro e marcou. Resolveu o jogo. Mas foi menorizado o golo. E agora o golo ao Braga, excelente arrancada (deliciosa a inflexão no sprint que colocou o central adversário fora do lance), domínio e algo pouco visto num avançado português: isolado, em vez de tentar colocar a bola, fez o que faz qualquer avançado de qualquer parte do mundo. Vai bomba! Golo!

Será que Saleiro terá continuidade no onze do Sporting? Tenho dúvidas. E se tiver continuidade, agarrará a oportunidade? Acredito que sim. Acompanho a sua carreira há já uns anos e sei bem que tipo de avançado é, daqueles oportunos e que só veem a baliza. Ao que acresce uma louca paixão pelo Sporting, o seu clube, algo que nunca escondeu. Por isso acredito que pode ser este o seu momento.

Se agarrar a oportunidade, será que até mesmo a Selecção Nacional poderia ter aqui um brinde para a África do Sul?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os túneis encarnados

Parece cada vez mais uma certeza que Hulk e Sapunaru irão ser pesadamente castigados no seguimento dos acontecimentos verificados no interior do túnel do Estádio da Luz, bem longe dos olhos do público. Não havendo desmentidos, parece claro que os jogadores do Porto deverão mesmo ter agredido os stewards aí presentes. Como tal, devem ser castigados de acordo com o que contemplam as regras. Portanto, já daqui a alguns dias saberemos o que sucederá com ambos os jogadores.

No entanto, não deverá passar em claro o que recorrentemente sucede com a equipa do Benfica nos "túneis" deste país. São já várias as acusações, e sei até mesmo por experiência própria que nenhuma outra equipa nacional, em especial os seus responsáveis, tem comportamentos tão lamentáveis quanto os responsáveis do Benfica nos túneis, corredores e balneários dos estádios portugueses.

Vem isto a propósito da presença de stewards no túnel, que para muitos poderá ser um facto normal, mas que é algo inimaginável porquanto está proibido pelo regulamento e não faz sentido, na medida em que a função dos stewards é controlar o público no recinto de jogo. Aliás, a presença de pessoas no túnel é altamente restrita, estando apenas autorizada aos elementos constantes no boletim de jogo, ou seja, além dos jogadores de cada equipa e equipa de arbitragem, apenas às equipas técnicas, equipas médicas, delegados ao jogo, director de segurança, director de campo e director de imprensa. Como é óbvio, a PSP, força de autoridade, pode e deve estar presente. Stewards não constam...

Daí estranhar que num final de jogo que até foi tranquilo, de repente 2 jogadores portistas, "do nada", decidissem atacar dois stewards que ali não deveriam estar. Ou estariam ali já com um propósito definido? É que se recordarmos as palavras de Rúben Micael, os acontecimentos em Braga, as "presenças" de Rui Costa no túnel sem estar habilitado para tal, começam a ser coincidências a mais.

Que a justiça caia, pois, sobre Hulk e Sapunaru. Mas não deixe ficar a rir quem provocou a situação. A FPF teve mão firme e o Benfica não conquistou o título de juniores da forma súcia com que o pretendia conquistar. Vejamos agora como reage a Liga de clubes, sabendo nós que ainda o ano passado, um adepto claramente identificado com o Benfica entrou em campo, agrediu um árbitro auxiliar e tudo se resolveu com uma multa. Aguardemos, pois, o que sairá daqui.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

JEB e as derrotas do Sporting

Não embarquei na euforia geral de que o culpado do mau início de temporada do Sporting era Paulo Bento, pela simples razão que ele já tinha demonstrado a sua capacidade para, com muito menos recursos que a concorrência, fazer-lhe frente. Por isso mesmo, também não é agora que acho que Carvalhal é incompetente ou tem culpa, ou que o plantel não presta. Tem limitações para lutar pelo título, mas tem condições para muito mais e melhor!

O problema do Sporting nesta temporada começou com a injusta (e roubada!) eliminação da Liga dos Campeões frente à Fiorentina. Esvaziou-se o balão e perderam-se muitos milhões que teriam dado para "compôr" o plantel com mais 2 ou 3 jogadores. Entrou-se já derrotado, portanto, na temporada.

Depois, seguiu-se o que eu nunca imaginei: tinha JEB como um homem que fundamentava a sua actuação na razão, mas sinceramente poucos Presidentes tão emocionais me lembro de ver actuar. As rábulas dos "forevers", os pulos desengonçados a tentar cantar com a claque, as promessas de mundos e fundos, não as esperava de um homem com o seu background.

Não sendo Sportinguista, sinto-me enganado pelo Presidente do Sporting, pois acreditei que seria uma lufada de ar fresco no panorama de dirigentes nacionais. Não o é, claramente. Imagino como se sentem os sportinguistas! É emotivo e vive na fuga para a frente. Defendeu Bento até ao limite do possível, sem lhe dar "armas". Quando teve de abdicar de Bento, ao invés de dar a época como perdida, foi buscar Carvalhal e continuou a alimentar sonhos irreais. Agora, após o fim do estado de graça de Carvalhal, já vem anunciar reforços.

A continuar assim, não tirando pressão da equipa, a época pode ser penosa e perigosa para os homens de Alvalade. E a solução teria sido tão simples: saía Paulo Bento, assumia-se o fracasso da temporada (Porto e Benfica muito fortes e Braga forte) e começava a preparar-se o futuro. Aliviava-se a pressão, o Sporting facilmente chegava aos 4 primeiros (apesar de plantel mais fraco que Porto e Benfica, está ao nível do Braga e claramente acima de todos os outros) e havia tempo e cabeça para preparar o futuro.

Haveria então tempo para ver se André Marques, Saleiro, Adrien ou Pereirinha têm futuro em Alvalade. Em Janeiro até se podia pensar num negócio a 6 meses que levasse, por exemplo, Sílvio (Rio Ave) e Mano (Belenenses) para Alvalade por empréstimo com opção de compra, dois laterais jovens, promissores e internacionais. Ou outros. Mas preparava-se o futuro!

Assim, as nuvens são muito negras sobre o Sporting. Vejamos o que Janeiro tem para nos oferecer...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Um dream-team que é um pesadelo

É sempre esta a sensação que tenho, de há uns anos a esta parte, quando vejo jogar o Atlético Madrid. Um ataque de nível mundial com uma defesa do piorzinho que se vê, sem ninguém que pense o jogo.

Devo dizer que é confrangedor ver uma equipa com Maxi Rodriguez, Simão, Forlán e Aguero ser incapaz de criar lances de ataque que resultem de algo mais do que inspiração individual. Ter Paulo Assunção e Cléber Santana a pensar o jogo de uma equipa de topo deveria ser crime. Xavi e Iniesta são, um bocadinho, diferentes.

O que sucede neste conjunto de jogadores é que Simão e Maxi acabam sempre por vir ao meio tentar "criar" qualquer coisa, enquanto Forlán e Aguero partem sempre muito de trás, raramente tendo a possibilidade de ganhar as costas da defesa.

É estranho, talvez único, encontrar no Séc. XXI uma equipa que joga claramente em 4-2-4, ainda que se possa afirmar que na realidade há ali um 4-4-2. O problema é que o pendor das alas é eminentemente ofensivo, portanto não há defesa para essa tese. Usa-se ali algo que já não se usa há muito tempo e não parece haver nada de inovador no sistema.

Mas o problema está muito para além do sistema, está na constituição do plantel, com milhões gastos na frente e tostões cá atrás. Talvez a provável saída de Aguero permita mais capacidade para reforçar defesa e meio campo e permita também tirar um homem da frente e reforçar a construção de jogo. Ou seja, a saída de um super-craque pode facilmente reforçar, e muito, o Atlético Madrid. Estranho, no mínimo...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Quem é que errou aqui?

O Sporting venceu esta noite o Vitória de Setúbal por 0-2, e o jogo fica marcado por uma situação caricata nos últimos minutos que resultou no segundo golo da equipa de Alvalade. Liedson é lançado em profundidade e o árbitro auxiliar levanta a bandeirola assinalando fora de jogo. No entanto, e como Liedson não se fez ao lance, o árbitro entendeu, e bem, dar a lei da vantagem, deixando seguir.

Nuno Santos, guarda-redes do Vitória, que procurava empatar antes do final da partida, rapidamente foi recolher a bola e colocou-a rasteira na frente, supostamente para ser marcado o livre a punir o fora-de-jogo... que não fora assinalado. Liedson apanhou a bola e selou o resultado. Para baralhar ainda mais estas contas, queixa-se o Vitória (e nas imagens que vi não é perceptível) que Nuno Santos recolheu a bola já para além do terreno de jogo, havendo portanto lugar a marcar um pontapé de baliza.

Nesta situação parece-me haver dois culpados:
- o árbitro auxiliar, que tem indicações para esperar, e portanto não deveria ter chegado a levantar a bandeirola. Mas, uma vez feito o gesto, o árbitro principal tem toda a competência para não assinalar a indicação do auxiliar. Nem se pode considerar erro do auxiliar, apenas falta de precaução
- o guarda-redes Nuno Santos é quem efectivamente fica menos bem na fotografia. Acontece a todos, mas é um lapso lamentável. Tem, no entanto, o álibi de afirmar que a bola já tinha saído. Se assim foi, está ilibado de qualquer culpa. Se não, foi de uma imprudência extrema não tendo ouvido o árbitro apitar e mesmo assim colocar a bola nos pés do adversário.

Acabo apenas com uma pequena reflexão: que significativo seria Liedson, apercebendo-se do lapso do colega de trabalho, ter-lhe devolvido a bola com fair-play? Seria a esta hora motivo dos maiores encómios para o luso-brasileiro (ou brasileiro-luso). Mas assim não fez, e na minha opinião muito bem. Liedson é pago para defender a camisola do Sporting. Não para defender a sua imagem.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O frango de Eduardo

Tem vindo a ser muito discutido nos últimos dias o auto-golo que Eduardo sofreu, da autoria de Moisés, aproveitando-se um momento menos feliz para colocar em causa a sua tão discutida titularidade na selecção e empolando-se uma situação caricata, mas que só acontece a quem joga.

Devo desde já afirmar que Eduardo não deveria, para mim, ser o titular da nossa Selecção, mas como acho que o seleccionador certamente tem uma opinião mais abalizada que a minha, confio que a escolha seja correcta. Ora não é o facto de não o admirar particularmente que me faz inventar frangos do homem.

Inventar frangos porque aquele golo, só numa invenção, é um frango. A culpa ali vai a 100% para o Moisés. Quanto ao Eduardo, limitou-se a ter o azar de ter um colega que juntou uma série de opções erradas a um certo azar na abordagem do lance. Eduardo estava onde tinha de estar, fora da baliza descaído para o flanco, de forma a facilitar o atraso de Moisés. O problema foi que Moisés insistiu em atrasar a bola, num campo encharcado, com muita força, e na direcção da baliza! Esse é que é o grande erro. Depois, Eduardo bem se esticou e teve alguma infelicidade, pois um leve desvio na bola chegaria para evitar o auto-golo.

É incrível como tudo se aproveita para destruír jogadores ou criar ídolos neste país. O que aconteceu no Sábado foi um lance normal de futebol e foi um empolado a um nível inacreditável. Depois admiram-se que os "Eduardos" mandem as boas que foram mandadas no fim do play-off com a Bósnia...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ladies and Gentleman, start your engines

Está na hora de ligar os motores, falta pouco mais de meio ano para o Mundial e, desde ontem, já sabemos quem nos calhou em sorte no nosso Grupo: Brasil, Costa do Marfim e Coreia do Norte.

Claro que, como sempre, houve já vozes que se levantaram a clamar pela dificuldade do grupo, certamente olvidados da vergonha de 2002, com EUA, Coreia do Sul e Polónia, quando se chegou inclusivé a titular na imprensa que Portugal ia apanhar a Argentina nas meias-finais. Como se até lá fosse "trigo limpo"! Foi o que foi, a meio da primeira parte do primeiro jogo já levávamos três secos dos Americanos (aqueles que não sabiam o que era o "soccer", seguiu-se concludente vitória sobre a Polónia (o que diziam ser a potência do grupo!) e no último jogo, uma combinação de estupidez natural (o empate chegáva-nos, aos Coreanos qualquer resultado servia, portanto eles não iam em joguinho a meio-campo) e loucura momentânea (quando JVP decidiu cortar um "chinoca" pela raíz e foi expulso, dando um carinhoso murro no árbitro) atiraram-nos borda fora. Curiosamente, a Argentina também se ficou pelos grupos... contas furadas.

O nosso grupo é fácil? Não, claro que não. Isto é o Mundial meus caros, não é a Taça Amizade. Podia ser mais fácil? Podia. Podia ser mais difícil? Podia. Portanto, é a estes que temos de vencer se queremos seguir em frente. A acrescer ao grau razoável de dificuldade do grupo, podemos juntar um sorteio de jogos muito favorável para nós, abrindo com o "adversário directo" Costa do Marfim. Uma vitória neste jogo coloca-nos com pé e meio na fase seguinte. Segue-se a desconhecida Coreia do Norte (espero que só para nós adeptos, acredito que se vá fazer um trabalho sério na FPF de forma a que os nossos jogadores não entrem às cegas em campo neste jogo), jogo que além da incerteza traz uma certa nostalgia. E fechamos a fase de grupos jogando com o poderoso Brasil. Ao chegar a este jogo, é bem provável (e importante!) que estejam já as duas selecções qualificadas. Mas o Brasil não é nenhum bicho papão, e o jogo de promoção da Nike feito o ano passado não conta para estas contas.

O Brasil assusta? Claro, só não assusta um inconsciente. Mas é uma selecção com algumas fragilidades (como todas) e que, se bem estudada, pode ser batida. Assusta-me mais uma Itália, uma França ou uma Alemanha, que um Brasil.

A Costa do Marfim, apresentada por estes dias como um bicho papão, tem de facto alguns nomes sonantes. Craque, é só Drogba. Claro, há Touré, Eboué, Zokora ou Kalou. Mas quantos desses nível temos nós? Muitos mais, não?

Agora é preciso é preparar bem o Mundial, escolher bem o local de estágio e ir para a África do Sul sem vedetismos, confiantes nas nossas capacidades e com vontade de fazer história. Em 2002 fomos como favoritos e saímos envergonhados. Porque não irmos desta feita como "underdogs" e voltar com o "caneco"?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Boa sorte Mister

A notícia dos gravíssimos problemas de saúde de Manuel Machado deixou-me chocado. Chocado por mais uma prova da ténue linha que separa um homem saudável de um homem às portas da morte, mas também porque, admito-o, Machado é um personagem com o qual nunca senti o mínimo de afinidade.

E isso acho que acaba por aumentar a minha atenção sobre o caso, pois parece que me custa ter, reiteradamente, desvalorizado o seu trabalho. Ou troçado da sua eloquência que me deixou louco na única vez que com ele falei, entre o balneário da sua equipa e a sala de imprensa, mantendo sempre aquela linguagem rica, característica, para minha surpresa. Não queria crer que longe das câmeras se mantivésse aquela postura, mas pelo menos elogie-se a coerência.

Nada mais somos que um mero corpo repleto de órgãos, veias ou ossos. Machado merecia o prémio dos seus jogadores conseguirem amanhã um resultado histórico, afastando o incrível azar que tem perseguido a brilhante carreira europeia dos madeirenses. Da minha parte, ficam os votos de, se não rápidas, pelo menos completas melhoras. E a certeza de que, de ora em diante, pensarei duas vezes antes de o criticar e, provavelmente, darei maior valor aos bons resultados por si alcançados.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Mário Jardel

Ontem ia para casa e houve uma lágrimazita que teimava em querer caír enquanto ouvia rádio. Enquanto ouvia o inacreditável Mário Jardel ser entrevistado. Uma criança, com a voz entaramelada, sem noção do ridículo e sempre, sempre, com a confiança que só os predestinados têm.

Jardel foi o jogador mais extraordinário que vi jogar. Enquanto jogava, várias vezes pensei que um dia que tivesse um filho, lhe haveria de falar daquele jogador fantástico, incapaz de correr com a bola, mas capaz de marcar golos de toda a forma e feitio. Maior que os maiores. Não há Zidane ou Ronaldo que o batam. As fintas treinam-se. O talento molda-se. Os dons ou se teem, ou não.

É custoso hoje, alguns anos volvidos, volta e meia aparecer este zombie que vagamente nos recorda o grandioso ponta de lança, e que diz que é Mário Jardel. Não! Mário Jardel foi um jogador brilhante durante uma dezena de anos. E desde então é uma memória fantástica que cada um daqueles que o viram jogar transporta consigo. Jardel sozinho marcou dezenas de golos a alguns adversários, e no entanto dificilmente se encontra alguém que não o respeite enquanto goleador. Porque ele era o ponto de chegada do futebol. Ele era o golo!

Força Mário. Obrigado por tudo!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O fim do Benfica???

Ouço por aí que o jogo de Domingo mostrou que o Benfica não é invencível, que agora que caíram do pedestal já não se recompõem, que afinal contra equipas fracas é que é, que os árbitros ajudam, etc e tal... claro que o Benfica não é invencível, isso não existe. Mas que é precisa uma grande dose de saber e sorte para os vencer, que ninguém tenha dúvidas!

Sejamos realistas e deixemos a clubite de lado. O Benfica está a jogar como nenhuma equipa jogava em Portugal desde o Porto de 2003 e 2004. Ou seja, está a jogar muito! Isso é inegável. Muita qualidade individual e muita qualidade colectiva, apesar de defensivamente as coisas ainda não estarem muito apuradas.

O que aconteceu na recepção ao Vitória, para a Taça, foi um azar. Só uma mente deturpada pode dizer que o Benfica jogou mal ou não merecia vencer. O resultado normal daquele jogo era um 3-0 a favor das águias. Com sorte, saía goleada. Com azar, perdiam 0-1. Tiveram azar. E hão-de perder mais jogos assim até ao fim da temporada, a questão é que a jogar assim é muito mais fácil chegar à vitória. É esse o segredo que Jesus transporta: não faz equipas para um jogo, faz equipas para uma época.

Nos últimos 15 anos, os Benfiquistas têm-se habituado a perder mais do que gostariam e, muitas vezes, a merecer perder. Este ano, pelo menos, têm a consolação de perder com azar. E isso é meio caminho andado para curar a última derrota, e não perder no jogo seguinte. Porque a qualidade de jogo está lá, basta apenas continuar a trabalhar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sejamos realistas!

O sector dos patrocínios está sujeito a variadíssimas limitações, da mais diferente índole, e por isso se analisarmos com algum rigor detectamos padrões de investimento de sectores específicos ao longo dos tempos. Nos dias de hoje, podemos dividir em 3 grandes grupos os sectores de actividade com capacidade para investir no futebol: cervejeiras (ex: Super Bock), Telecomunicações (ex: TMN) e apostas on-line (ex: bet online at BetUS.com).

Historicamente, a Sagres e a SuperBock, em particular desde os anos 80, disputam a liderança do gigantesco mercado cervejeiro português, numa guerra que parece estar para durar, e após algum abrandamento no sponsoring de ambas no final da década de 90, a aposta recente veio em força, a que acresce ainda o patrocínio da Carlsberg à Taça da Liga. A guerra está de tal maneira que já se rasgam contratos com um dos pretensos líderes para “assinar” pelo outro. A aposta é forte e os clubes devem aproveitar para ser a parte que mais ganha nesta luta fraticida.

No que diz respeito ao sector das telecomunicações, a sua época áurea deu-se há alguns anos atrás, quando o mercado português de comunicações móveis ainda estava em crescimento, mantendo-se contudo um elevado investimento fruto da constante inovação tecnológica no sector que provoca um consumo repetitivo do mesmo. Aliás, as telecomunicações são neste momento o sector economicamente mais forte, em todos os sentidos, pelo que deverão ser uma aposta estratégica da parte dos gabinetes comerciais dos clubes.

Chegamos por fim às apostas on-line… o grande “apostador” em sponsoring ao nível do futebol a nível europeu e que se encontra arredado, por questões legais, do mercado português, depois de curiosamente aqui ter sido dado o primeiro grande passo (a criação da Liga BetandWin e posteriormente Bwin) a nível mundial. Esse facto levou-me a acreditar que Portugal poderia aproveitar este mercado, mas os desenvolvimentos recentes, com a guerra que opõe a SCML às casas de apostas, não auguram nada de bom, havendo o risco dos clubes portugueses deixarem passar esta oportunidade de negócio e, quando se legislar, ser já tarde para o aproveitar.

Num tempo de crise, em que o mercado de apostas on-line tem um crescimento exponencial e o seu apetite por “antena” e por investir em imagem é enorme, o mercado desportivo português vive arredado dessa realidade que atravessa a Europa de lés a lés. Por isso é estranho ver 5 ou 6 clubes da Liga Sagres (cá está a cerveja!) sem patrocinador nas camisolas, quando poderiam ter lá algo e dessa forma ser mais competitivos, usufruíndo de recursos que permitiram beneficiar a sua performance e dessa forma dar retorno aos patrocinadores.

Devo dizer que compreendo a posição da SCML, afinal defende apenas os seus direitos, legalmente consagrados. O que me parece é que deve haver uma clara discussão deste assunto, legislar-se sobre o mesmo (não vale a pena enterrar a cabeça na areia e dizer que é proibido apostar on-line em Portugal quando milhões e milhões de euros são apostados por portugueses dessa forma) e discutir qual a legitimidade da SCML para ter o monopólio do jogo, apesar da sua inegável função social. Pode-se então colocar a questão: estarão os players do mercado interessados em entrar, se forem obrigados a ter algum peso social no seu retorno? E deixo então a questão final à SCML: porque não “entrar no jogo”, com toda a imagem e know-how existentes, e aceitar que possa haver outros players no mercado. E ir a jogo, claro. Por exemplo, patrocinando o futebol. Aproveitando uma imagem secular e de seriedade por contra-ponto com toda esta nova panóplia de empresas de que, mesmo quem joga, tem muitas dúvidas sobre a legitimidade...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Vitória com classe

Estamos na África do Sul! Como sempre esperei e poucas dúvidas tive, com maior ou menor dificuldade, lá chegaríamos. E a verdade é que encerrámos a viagem até à África do Sul de forma brilhante, com uma vitória que pareceu fácil pela tremenda qualidade do nosso jogo, concentração e cumprimento do plano definido que, como aqui avançara ontem, passaria por dar a iniciativa de jogo ao adversário e explorar os espaços por eles concedidos ou as bolas paradas.

Em desvantagem na eliminatória e com Portugal a dar-lhes a bola, os Bósnios mostraram que são uma selecção bem inferior à nossa, chegando a ser confrangedora a sua total incapacidade para jogar futebol, apostando exclusivamente no pontapé para a frente. Portugal, fiel ao programado, saía rápido para o contra ataque com 3/4 jogadores, sempre com a preocupação de não desequilibrar a equipa, e desde cedo se percebeu que era Portugal quem mandava no jogo e tinha maiores probabilidades de chegar ao golo.

Foi pena Meireles não carimbar o passaporte mais cedo, ainda na primeira parte, num golo que a entrar seria de antologia pela envolvência da jogada. Mas não foi aí, foi já no início da segunda parte, e a partir daí Portugal estava já na África do Sul, com os Bósnios a deixarem caír os braços e Portugal a mostrar a sua especialidade: falhar golos!

Gostaria de destacar, da partida de ontem, 2 jogadores: por um lado Duda, o patinho feio da selecção, um desconhecido do grande público, que joga numa posição que não é a sua e onde, de facto, não tem estado em bom plano. Mas ontem tudo foi diferente e Duda foi dos jogadores mais incisivos na manobra da equipa ; por outro lado, Tiago, a "surpresa" no onze, "fazendo de Deco", tacticamente irrepreensível, a pautar o jogo a meio campo com classe e com 2 ou 3 pormenores a fazer-nos acreditar que não somos Decodependentes.

Por último, uma nota para a excelente arbitragem do italiano Rosseti, a deixar jogar nos limites, mas a ser rigoroso quando se impunha. E uma nota final para a atitude dos jogadores Bósnios que, mesmo a perder, mantiveram a calma (não se deixaram instigar por Blazevic) e numa altura mais crítica, em que choveram alguns objectos para o relvado, foram os primeiros a pedir calma ao público nas bancadas.

Parabéns Portugal! A todos! Dirigentes, equipa técnica e atletas. Agora, vamos lá "descobrir" África!