terça-feira, 25 de maio de 2010

O verdadeiro erro Cabo-Verdiano

Em ritmo de treino, Portugal empatou ontem a zero com Cabo Verde, num jogo em que dada a animosidade da generalidade do público e imprensa para com a equipa nacional, a vitória era fundamental. Se as coisas já não iam direitas no capítulo dos laços afectivos entre este triângulo, agora a coisa começa a descambar. E sem razão.

Desde o início da Fase de Qualificação fizemos 14 jogos, que se saldaram em 8 vitórias, 5 empates e 1 derrota, sendo que já vamos em 12 jogos consecutivos sem perder! E há 7 jogos que não sofremos golos. Foi uma fase de qualificação "sofrida", muito por culpa de uma derrota caseira logo a abrir com a Dinamarca, numa jogo surreal, provavelmente o melhor jogo da década da selecção portuguesa, que se deixou perder 2-3 nos últimos minutos um jogo que poderia ter dado uma goleada histórica. A partir daí, foi sempre "correr atrás do prejuízo", e a verdade é que Portugal cumpriu e qualificou-se. Agora, com os jogos de preparação, começaram as críticas na vitória por 2-0 sobre a China e com este empate com Cabo Verde já somos uma desgraça...

Para desmistificar isto, que tal analisar as últimas grandes competições?

Euro 2008 - Qualificámo-nos no último jogo, na recepção à Finlândia, passando os últimos 15 minutos, penosamente, enfiados na nossa área a ser massacrados pelos nórdicos que, em caso de vitória, nos roubavam o 2º lugar do grupo (que deu acesso directo). Em 4 jogos de preparação para o Euro 2008, ganhámos 2-0 à Geórgia e 2-1 à Escócia, perdendo 3-1 com a Itália e 1-2 com a Grécia! No Euro começámos muito bem, vitórias claras sobre Turquia (2-0) e Rep. Checa (3-1), com a derrota com a Suíça (2-0) no último jogo da fase de grupos a jogar em modo "treino" e com muitos suplentes. Seguiu-se a Alemanha, e perdemos 3-2. Participação positiva, eliminados por um dos candidatos.

Mundial 2006 - Qualificação muito fácil para este Mundial, numa altura em que tinhamos a melhor selecção portuguesa de sempre e um grupo fácil, sem nenhum adversário directo. Particulares contra Cabo Verde, Arábia Saudita e Luxemburgo (2 vezes), que se saldaram em 4 vitórias moralizadoras, que anteciparam uma excelente prestação no Mundial, em que vencemos os 3 jogos da Fase de Grupos (Angola, México e Irão) e passámos Holanda e Inglaterra até caír aos pés da França na meia-final. Participação brilhante.

Euro 2004 - Tivemos apuramento directo em virtude de sermos os organizadores, e apenas disputámos partidas amigáveis, que se saldaram em 9 vitórias (Brasil, Macedónia, Bolívia, Cazaquistão, Noruega, Albânia, Koweit, Luxemburgo e Lituânia), 5 empates (Holanda, Paraguai, Grécia, Inglaterra e Suécia) e 3 derrotas (Itália, por duas vezes, e Espanha). No Europeu disputado em casa, entrámos com o pé esquerdo, perdendo com a Grécia por 1-2. As críticas foram imensas e partimos para uma bonita caminhada que deixou pelo caminho na competição a Rússia, a Espanha, a Inglaterra e a Holanda, voltando a encontrar a Grécia na final... e perdendo. Se a derrota fosse frente a uma selecção forte, o percurso seria ainda assim brilhante. Perdendo a final, em casa, frente a uma equipa muito inferior, apenas podemos considerar o desempenho positivo.

Resumindo - Como podemos ver por esta curta análise, nunca estivemos no patamar mais alto, tivemos sempre precalços pelo caminho, que resultam do facto de não sermos nem nunca termos sido uma selecção candidata a nada, apenas um outsider com um naipe de excelentes jogadores. Mas sem uma qualidade média e quantidade de opções que nos permitam "saltar" para o grupo de Alemanha, Brasil, Argentina, Itália ou França. Tivemos no período entre 2004 e 2006 a nossa melhor selecção de sempre, que apenas logrou o título de vice-campeã europeia numa final caseira frente a uma fraca Grécia. Daí para cá, tem sido sempre mais complicado, vários jogadores nucleares foram abandonando a selecção e a renovação não tem existido. Nenhuma selecção pode aspirar efectivamente a algo se não tem um guarda-redes de classe mundial, se não tem um defesa esquerdo, se o único trinco que tem é um central adaptado ou tem de naturalizar à pressa um brasileiro trintão para jogar na frente de ataque. É fundamental que todos percebamos que a nossa selecção não é nem a melhor, nem a pior do mundo. Apenas um outsider que tem a sorte de contar com meia dúzia de jogadores de top mundial. E que os jogos de preparação são, exactamente, para preparar a equipa.

Nota final - Este jogo de preparação frente a Cabo Verde, tal como o jogo frente a Moçambique, é um erro de planeamento. Estamos a fazer jogos de preparação em vésperas do Mundial, que são jogos em que nenhum jogador quer arriscar "meter o pé", frente a adversários com ligações afectivas ao nosso país e ao nosso futebol, que vêm neste o "jogo das suas vidas". Estes deveriam ser jogos para jogar a segunda linha, em ritmo de competição, com gente ávida por ganhar um lugar ao sol. Para que serviram estes 90 minutos de Cristiano Ronaldo ou Nani? Não seria mais útil dar minutos a segundas linhas? Esse para mim foi o verdadeiro erro do teste de ontem.

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