segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os túneis encarnados

Parece cada vez mais uma certeza que Hulk e Sapunaru irão ser pesadamente castigados no seguimento dos acontecimentos verificados no interior do túnel do Estádio da Luz, bem longe dos olhos do público. Não havendo desmentidos, parece claro que os jogadores do Porto deverão mesmo ter agredido os stewards aí presentes. Como tal, devem ser castigados de acordo com o que contemplam as regras. Portanto, já daqui a alguns dias saberemos o que sucederá com ambos os jogadores.

No entanto, não deverá passar em claro o que recorrentemente sucede com a equipa do Benfica nos "túneis" deste país. São já várias as acusações, e sei até mesmo por experiência própria que nenhuma outra equipa nacional, em especial os seus responsáveis, tem comportamentos tão lamentáveis quanto os responsáveis do Benfica nos túneis, corredores e balneários dos estádios portugueses.

Vem isto a propósito da presença de stewards no túnel, que para muitos poderá ser um facto normal, mas que é algo inimaginável porquanto está proibido pelo regulamento e não faz sentido, na medida em que a função dos stewards é controlar o público no recinto de jogo. Aliás, a presença de pessoas no túnel é altamente restrita, estando apenas autorizada aos elementos constantes no boletim de jogo, ou seja, além dos jogadores de cada equipa e equipa de arbitragem, apenas às equipas técnicas, equipas médicas, delegados ao jogo, director de segurança, director de campo e director de imprensa. Como é óbvio, a PSP, força de autoridade, pode e deve estar presente. Stewards não constam...

Daí estranhar que num final de jogo que até foi tranquilo, de repente 2 jogadores portistas, "do nada", decidissem atacar dois stewards que ali não deveriam estar. Ou estariam ali já com um propósito definido? É que se recordarmos as palavras de Rúben Micael, os acontecimentos em Braga, as "presenças" de Rui Costa no túnel sem estar habilitado para tal, começam a ser coincidências a mais.

Que a justiça caia, pois, sobre Hulk e Sapunaru. Mas não deixe ficar a rir quem provocou a situação. A FPF teve mão firme e o Benfica não conquistou o título de juniores da forma súcia com que o pretendia conquistar. Vejamos agora como reage a Liga de clubes, sabendo nós que ainda o ano passado, um adepto claramente identificado com o Benfica entrou em campo, agrediu um árbitro auxiliar e tudo se resolveu com uma multa. Aguardemos, pois, o que sairá daqui.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

JEB e as derrotas do Sporting

Não embarquei na euforia geral de que o culpado do mau início de temporada do Sporting era Paulo Bento, pela simples razão que ele já tinha demonstrado a sua capacidade para, com muito menos recursos que a concorrência, fazer-lhe frente. Por isso mesmo, também não é agora que acho que Carvalhal é incompetente ou tem culpa, ou que o plantel não presta. Tem limitações para lutar pelo título, mas tem condições para muito mais e melhor!

O problema do Sporting nesta temporada começou com a injusta (e roubada!) eliminação da Liga dos Campeões frente à Fiorentina. Esvaziou-se o balão e perderam-se muitos milhões que teriam dado para "compôr" o plantel com mais 2 ou 3 jogadores. Entrou-se já derrotado, portanto, na temporada.

Depois, seguiu-se o que eu nunca imaginei: tinha JEB como um homem que fundamentava a sua actuação na razão, mas sinceramente poucos Presidentes tão emocionais me lembro de ver actuar. As rábulas dos "forevers", os pulos desengonçados a tentar cantar com a claque, as promessas de mundos e fundos, não as esperava de um homem com o seu background.

Não sendo Sportinguista, sinto-me enganado pelo Presidente do Sporting, pois acreditei que seria uma lufada de ar fresco no panorama de dirigentes nacionais. Não o é, claramente. Imagino como se sentem os sportinguistas! É emotivo e vive na fuga para a frente. Defendeu Bento até ao limite do possível, sem lhe dar "armas". Quando teve de abdicar de Bento, ao invés de dar a época como perdida, foi buscar Carvalhal e continuou a alimentar sonhos irreais. Agora, após o fim do estado de graça de Carvalhal, já vem anunciar reforços.

A continuar assim, não tirando pressão da equipa, a época pode ser penosa e perigosa para os homens de Alvalade. E a solução teria sido tão simples: saía Paulo Bento, assumia-se o fracasso da temporada (Porto e Benfica muito fortes e Braga forte) e começava a preparar-se o futuro. Aliviava-se a pressão, o Sporting facilmente chegava aos 4 primeiros (apesar de plantel mais fraco que Porto e Benfica, está ao nível do Braga e claramente acima de todos os outros) e havia tempo e cabeça para preparar o futuro.

Haveria então tempo para ver se André Marques, Saleiro, Adrien ou Pereirinha têm futuro em Alvalade. Em Janeiro até se podia pensar num negócio a 6 meses que levasse, por exemplo, Sílvio (Rio Ave) e Mano (Belenenses) para Alvalade por empréstimo com opção de compra, dois laterais jovens, promissores e internacionais. Ou outros. Mas preparava-se o futuro!

Assim, as nuvens são muito negras sobre o Sporting. Vejamos o que Janeiro tem para nos oferecer...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Um dream-team que é um pesadelo

É sempre esta a sensação que tenho, de há uns anos a esta parte, quando vejo jogar o Atlético Madrid. Um ataque de nível mundial com uma defesa do piorzinho que se vê, sem ninguém que pense o jogo.

Devo dizer que é confrangedor ver uma equipa com Maxi Rodriguez, Simão, Forlán e Aguero ser incapaz de criar lances de ataque que resultem de algo mais do que inspiração individual. Ter Paulo Assunção e Cléber Santana a pensar o jogo de uma equipa de topo deveria ser crime. Xavi e Iniesta são, um bocadinho, diferentes.

O que sucede neste conjunto de jogadores é que Simão e Maxi acabam sempre por vir ao meio tentar "criar" qualquer coisa, enquanto Forlán e Aguero partem sempre muito de trás, raramente tendo a possibilidade de ganhar as costas da defesa.

É estranho, talvez único, encontrar no Séc. XXI uma equipa que joga claramente em 4-2-4, ainda que se possa afirmar que na realidade há ali um 4-4-2. O problema é que o pendor das alas é eminentemente ofensivo, portanto não há defesa para essa tese. Usa-se ali algo que já não se usa há muito tempo e não parece haver nada de inovador no sistema.

Mas o problema está muito para além do sistema, está na constituição do plantel, com milhões gastos na frente e tostões cá atrás. Talvez a provável saída de Aguero permita mais capacidade para reforçar defesa e meio campo e permita também tirar um homem da frente e reforçar a construção de jogo. Ou seja, a saída de um super-craque pode facilmente reforçar, e muito, o Atlético Madrid. Estranho, no mínimo...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Quem é que errou aqui?

O Sporting venceu esta noite o Vitória de Setúbal por 0-2, e o jogo fica marcado por uma situação caricata nos últimos minutos que resultou no segundo golo da equipa de Alvalade. Liedson é lançado em profundidade e o árbitro auxiliar levanta a bandeirola assinalando fora de jogo. No entanto, e como Liedson não se fez ao lance, o árbitro entendeu, e bem, dar a lei da vantagem, deixando seguir.

Nuno Santos, guarda-redes do Vitória, que procurava empatar antes do final da partida, rapidamente foi recolher a bola e colocou-a rasteira na frente, supostamente para ser marcado o livre a punir o fora-de-jogo... que não fora assinalado. Liedson apanhou a bola e selou o resultado. Para baralhar ainda mais estas contas, queixa-se o Vitória (e nas imagens que vi não é perceptível) que Nuno Santos recolheu a bola já para além do terreno de jogo, havendo portanto lugar a marcar um pontapé de baliza.

Nesta situação parece-me haver dois culpados:
- o árbitro auxiliar, que tem indicações para esperar, e portanto não deveria ter chegado a levantar a bandeirola. Mas, uma vez feito o gesto, o árbitro principal tem toda a competência para não assinalar a indicação do auxiliar. Nem se pode considerar erro do auxiliar, apenas falta de precaução
- o guarda-redes Nuno Santos é quem efectivamente fica menos bem na fotografia. Acontece a todos, mas é um lapso lamentável. Tem, no entanto, o álibi de afirmar que a bola já tinha saído. Se assim foi, está ilibado de qualquer culpa. Se não, foi de uma imprudência extrema não tendo ouvido o árbitro apitar e mesmo assim colocar a bola nos pés do adversário.

Acabo apenas com uma pequena reflexão: que significativo seria Liedson, apercebendo-se do lapso do colega de trabalho, ter-lhe devolvido a bola com fair-play? Seria a esta hora motivo dos maiores encómios para o luso-brasileiro (ou brasileiro-luso). Mas assim não fez, e na minha opinião muito bem. Liedson é pago para defender a camisola do Sporting. Não para defender a sua imagem.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O frango de Eduardo

Tem vindo a ser muito discutido nos últimos dias o auto-golo que Eduardo sofreu, da autoria de Moisés, aproveitando-se um momento menos feliz para colocar em causa a sua tão discutida titularidade na selecção e empolando-se uma situação caricata, mas que só acontece a quem joga.

Devo desde já afirmar que Eduardo não deveria, para mim, ser o titular da nossa Selecção, mas como acho que o seleccionador certamente tem uma opinião mais abalizada que a minha, confio que a escolha seja correcta. Ora não é o facto de não o admirar particularmente que me faz inventar frangos do homem.

Inventar frangos porque aquele golo, só numa invenção, é um frango. A culpa ali vai a 100% para o Moisés. Quanto ao Eduardo, limitou-se a ter o azar de ter um colega que juntou uma série de opções erradas a um certo azar na abordagem do lance. Eduardo estava onde tinha de estar, fora da baliza descaído para o flanco, de forma a facilitar o atraso de Moisés. O problema foi que Moisés insistiu em atrasar a bola, num campo encharcado, com muita força, e na direcção da baliza! Esse é que é o grande erro. Depois, Eduardo bem se esticou e teve alguma infelicidade, pois um leve desvio na bola chegaria para evitar o auto-golo.

É incrível como tudo se aproveita para destruír jogadores ou criar ídolos neste país. O que aconteceu no Sábado foi um lance normal de futebol e foi um empolado a um nível inacreditável. Depois admiram-se que os "Eduardos" mandem as boas que foram mandadas no fim do play-off com a Bósnia...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ladies and Gentleman, start your engines

Está na hora de ligar os motores, falta pouco mais de meio ano para o Mundial e, desde ontem, já sabemos quem nos calhou em sorte no nosso Grupo: Brasil, Costa do Marfim e Coreia do Norte.

Claro que, como sempre, houve já vozes que se levantaram a clamar pela dificuldade do grupo, certamente olvidados da vergonha de 2002, com EUA, Coreia do Sul e Polónia, quando se chegou inclusivé a titular na imprensa que Portugal ia apanhar a Argentina nas meias-finais. Como se até lá fosse "trigo limpo"! Foi o que foi, a meio da primeira parte do primeiro jogo já levávamos três secos dos Americanos (aqueles que não sabiam o que era o "soccer", seguiu-se concludente vitória sobre a Polónia (o que diziam ser a potência do grupo!) e no último jogo, uma combinação de estupidez natural (o empate chegáva-nos, aos Coreanos qualquer resultado servia, portanto eles não iam em joguinho a meio-campo) e loucura momentânea (quando JVP decidiu cortar um "chinoca" pela raíz e foi expulso, dando um carinhoso murro no árbitro) atiraram-nos borda fora. Curiosamente, a Argentina também se ficou pelos grupos... contas furadas.

O nosso grupo é fácil? Não, claro que não. Isto é o Mundial meus caros, não é a Taça Amizade. Podia ser mais fácil? Podia. Podia ser mais difícil? Podia. Portanto, é a estes que temos de vencer se queremos seguir em frente. A acrescer ao grau razoável de dificuldade do grupo, podemos juntar um sorteio de jogos muito favorável para nós, abrindo com o "adversário directo" Costa do Marfim. Uma vitória neste jogo coloca-nos com pé e meio na fase seguinte. Segue-se a desconhecida Coreia do Norte (espero que só para nós adeptos, acredito que se vá fazer um trabalho sério na FPF de forma a que os nossos jogadores não entrem às cegas em campo neste jogo), jogo que além da incerteza traz uma certa nostalgia. E fechamos a fase de grupos jogando com o poderoso Brasil. Ao chegar a este jogo, é bem provável (e importante!) que estejam já as duas selecções qualificadas. Mas o Brasil não é nenhum bicho papão, e o jogo de promoção da Nike feito o ano passado não conta para estas contas.

O Brasil assusta? Claro, só não assusta um inconsciente. Mas é uma selecção com algumas fragilidades (como todas) e que, se bem estudada, pode ser batida. Assusta-me mais uma Itália, uma França ou uma Alemanha, que um Brasil.

A Costa do Marfim, apresentada por estes dias como um bicho papão, tem de facto alguns nomes sonantes. Craque, é só Drogba. Claro, há Touré, Eboué, Zokora ou Kalou. Mas quantos desses nível temos nós? Muitos mais, não?

Agora é preciso é preparar bem o Mundial, escolher bem o local de estágio e ir para a África do Sul sem vedetismos, confiantes nas nossas capacidades e com vontade de fazer história. Em 2002 fomos como favoritos e saímos envergonhados. Porque não irmos desta feita como "underdogs" e voltar com o "caneco"?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Boa sorte Mister

A notícia dos gravíssimos problemas de saúde de Manuel Machado deixou-me chocado. Chocado por mais uma prova da ténue linha que separa um homem saudável de um homem às portas da morte, mas também porque, admito-o, Machado é um personagem com o qual nunca senti o mínimo de afinidade.

E isso acho que acaba por aumentar a minha atenção sobre o caso, pois parece que me custa ter, reiteradamente, desvalorizado o seu trabalho. Ou troçado da sua eloquência que me deixou louco na única vez que com ele falei, entre o balneário da sua equipa e a sala de imprensa, mantendo sempre aquela linguagem rica, característica, para minha surpresa. Não queria crer que longe das câmeras se mantivésse aquela postura, mas pelo menos elogie-se a coerência.

Nada mais somos que um mero corpo repleto de órgãos, veias ou ossos. Machado merecia o prémio dos seus jogadores conseguirem amanhã um resultado histórico, afastando o incrível azar que tem perseguido a brilhante carreira europeia dos madeirenses. Da minha parte, ficam os votos de, se não rápidas, pelo menos completas melhoras. E a certeza de que, de ora em diante, pensarei duas vezes antes de o criticar e, provavelmente, darei maior valor aos bons resultados por si alcançados.