quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

CAN começa mal

O Mundo inteiro condena o ataque prepetrado por revolucionários da FLEC contra o autocarro que transportava a Selecção do Togo que se dirigia para a CAN, na província de Cabinda, e com razão. Mas até aqui pouco se ouviu sobre como foi possível o mesmo ter sucedido e quais as suas repercussões.

Cabinda é uma província Angolana onde se situam grande parte das riquezas naturais do país. No entanto, Cabinda não tem qualquer ligação física com o território Angolano. A sua formação enquanto província tem origem na Conferência de Berlim, em finais do Séc. XIX, que dividiu um extenso território em Congo Belga (actual Rep. Congo), Congo Francês (Rep.Dem.Congo) e Congo Português (Cabinda). No entanto, os Belgas pretendiam ter ligação ao Oceano Atlântico, pelo que o Congo Português deixou de ter ligação a Angola, cortando-se assim quaisquer laços que poderiam existir com as províncias a Sul. Desde 1975, que a FLEC reclama a independência da província, mas a sua força sempre foi relativa e não passa de actos de guerrilha isolados.

Dito isto, estamos perante um território numa paz aparente, que foi escolhido como uma das cidade sede da CAN 2010. De forma a garantir a segurança das selecções que se deslocariam a Cabinda, a organização da CAN informou as mesmas que deveriam rumar a Luanda e, daí e com escolta militar, deslocar-se-iam para Cabinda. Apesar dos avisos, o Togo optou por viajar de avião até Libreville, na Rep.Dem.Congo, e daí seguir de autocarro para Cabinda.

Conhecedoras da situação, as forças da FLEC não hesitaram e aproveitaram a oportunidade para dar a conhecer ao mundo a sua luta. Da forma mais estúpida, claro, atacando estrangeiros inocentes que se deslocavam à sua província para um espectáculo desportivo.

A Federação do Togo cometeu um erro crasso ao não cumprir as recomendações da organização da CAN. E o abandono da prova, dadas as 3 vítimas mortais e alguns jogadores feridos, é uma saída óbvia para a situação. Mas notícias hoje vindas a lume dão conta de uma possível punição exemplar para os Togoleses por terem abandonado a prova.

É aqui que não concordo. Houve um erro, mas num mundo civilizado não serão necessárias escoltas militares para um autocarro com jogadores de futebol passar, onde quer que seja. Dadas as repercussões da emboscada, inclusivé com jogadores fisicamente inferiorizados, a acrescer a dirigentes mortos, a saída da competição parece a única solução aceitável. Castigar ainda mais o Togo do que o castigo de não entrar em campo, por razões plausíveis, parece-me abusivo.

Senão, imaginemos a seguinte situação: Europeu em Espanha, a França é avisada que deve ir de avião até Madrid e daí para Bilbao com escolta militar. Os Franceses, ignorando o perigo, seguem de autocarro para Bilbao, há uma emboscada. Em resultado, a França abandona a competição. Ainda se ia dizer que os Espanhóis tiveram culpa? Alguém ia castigar ainda mais os Franceses?

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