quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Como é possível?


Um passe a rasgar e o mundo a seus pés, já nos descontos, com o jogo empatado. Com a equipa no último lugar do campeonato. 21 anos. Um nível de exigência diferente e todo o peso de uma equipa nos ombros. O colega ao lado, os dois sozinhos, cara a cara com o guarda-redes que, desamparado, chega a tirar os olhos da bola por longos instantes.

A corrida, cada vez mais lenta, em direcção à baliza. Cada vez mais lenta, para demorar o máximo de tempo a lá chegar. O colega ao lado, com experiência, a controlar a linha da bola para não estar fora de jogo. O colega a pensar "agora é só esperar que o guarda-redes caia e ele mete-a, se ele não caír dá a bola aqui e do último lugar saltamos para o meio da tabela e as aflições ficam mais longe".

Mas Vinícius pensa na carreira promissora que estava estagnada no Brasil. Nas boas indicações em Portugal e em como este golo pode valer ouro para a sua equipa. Pensa na sua mulher, recém-casado, e no futuro que pode estar nas asas deste golo.

Por muito lento que corra, já não há mais tempo. É tempo de marcar. Ou dar a marcar. Não. É de marcar. Um tecnicista como Vinícius Pacheco é capaz de colocar uma bola "morta" como aquela ao milímetro. Por isso, nem sequer é tempo de encher o pé. É tempo de apontar ao canto da baliza e dar um toque suave na bola para a colocar naquele sítio em que, sem todo este texto para trás, até de olhos vendados Vinícius Pacheco era homem para colocar a bola. Aí vai ela para a baliza, "é agora o meu momento". Falhou!

"Como é possível?" pensa Jaime Pacheco. Pensou Jesualdo Ferreira quando Hélton deixou passar uma bola em que em 1000, defende 1000. Esta foi a 1001ª. E ninguém lhe disse que apesar de em 1000 defender 1000, na verdade em 1001 só defende as mesmas 1000. O desespero estampado no rosto de um virtuoso e de um guarda-redes.

Como se resolve isto? Com confiança. Com um balneário forte e um treinador amigo. Com um golo dedicado, com um piscar de olho, com uma brincadeira. É isto o futebol. Os golos marcados e falhados, as grandes defesas e os grandes frangos. É também nos grandes falhanços que está a grande magia do futebol.


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